Para entender o motivo, é preciso compreender a importância de um site de buscas. Comecemos assim: o Google sabe quem você é. Mesmo. Sabe mais, se bobear, que seu psicanalista. Todos nós usamos sites de busca, principalmente o Google. Muitas vezes é para trabalho ou estudo. Noutras, para encontrar algo que queremos comprar – a melhor câmera digital, o carro ideal. Aí tem aquelas vezes, ali na madrugada, que digitamos na caixa de busca nossos segredos mais particulares. Uma doença grave, a busca por um empréstimo, a procura solitária por um amor. Pois aquilo que escondemos de todo mundo, o Google sabe.
Some a isso a DoubleClick, que tem tecnologia para colocar anúncios específicos na página que você está lendo, e seja bem-vindo ao paraíso dos anunciantes. Um sistema que liga as duas pontas: sabe alguém potencialmente interessado no seu produto e leva sua propaganda a ele no momento certo. Atirar anúncios genéricos para milhões de pessoas a preços exorbitantes para capturar uns milhares de clientes, nunca mais. (Para constar, Sergey Brin, um dos dois fundadores do Google, jura que sua turma vai pensar muito antes de integrar aquilo que o sistema de buscas sabe e o que é passado para o gerente de banners.)
Impressionado? A empresa tem outras garras. O Gmail, seu popular correio eletrônico, vem acoplado com um sistema inteligente de propaganda capaz de ler suas mensagens e encontrar palavras-chave lá. No Brasil, o orkut é um dos sites mais usados. É do Google. YouTube? Google. Metade de todas as buscas na internet são feitas via Google – o que dá ao site o poder de determinar o que será visto e o que ficará enterrado nas profundezas da web. Junte tudo, mais a quantidade de informação pessoal que o Google é capaz de armazenar a seu respeito... e não sobra muito. O Google sabe quem você é. Sabe de que livros gosta – está lá no seu perfil no orkut. Conhece todos os e-mails que você recebe, todos os que envia, qualquer coisa que você procurar na internet (sim, tudo o que é escrito na caixinha de busca fica armazenado). Agora pegue todas as informações e coloque-as à venda. É exatamente esse o negócio que o Google tem nas mãos.
Até hoje, o Google se comportou como uma empresa simpática – seu slogan diz Don’t Be Evil, “Não Seja do Mal”. Mas a frase foi criada quando só os fundadores decidiam tudo. Agora é preciso responder à pressão dos acionistas. E, nas empresas, dinheiro alto costuma contar mais. Se o governo da China pede para censurar algumas buscas, o empresário pensa no compromisso com a liberdade da internet, pensa nas possibilidades do mercado chinês, decide pelo mercado.
É o que o Google fez quando o governo chinês exigiu que não exibisse links para assuntos que não lhe interessam. Grupos de oposição, por exemplo. A propósito: alguém perguntou a Você – aquele, o da capa da Time – se seu segredo mais íntimo – aquele, o da busca na alta madrugada – pode ser colocado à venda?
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